Monday 7 November 2016

WINNER TAKES ALL (Aventuras dum galego na Inglaterra)



É costume mui britâncio, aquando os grandes acontecimentos desportivos, o faguer apostas no lugar do emprego. Assi, co galho do Euro 2016 de futebol, e pra participar nos costumes costumeiros no meu emprego, tivem de tirar, em troca dumha libra esterlina, umha bolinha de papel dum saco de plástico. Havia neste saco, que umha colega me protendia, muitas bolinhas, nomeadamente 24, umha por cada equipa participante. Eu fum um dos últimos em tirar a bola, e quando metim a mao no saco já nele nom estavam as melhores equipas: a França, a Alemanha, a Espanha, a Inglaterra, a Itália ... Ainda assi, coas que restavam pensei armar um bocadinho de festa, e antes de tirar a minha bola remexim em todas elas e dei palmadinhas no fundo do saco, hop, pra as fazerem remexer e choutar, hop, hop, como se fosse algo mui emocionante. A colega que tinha o saco nas maos, embora nom dizia nada, devia já ir um algo impaciente, à espera de eu parar de faguer o macaco e tirar a fodida bola de vez. Enfim, após a minha exibiçom de suspense, cum sorriso mui retranqueiro tirei umha bola, e passei-na a umha outra colega que ali ao lado assistia a este sorteio que nem o Blatter e o Platini. Esta colega abriu a bolinha de papel que quadrava, precisamente, a este galego que se fai de português, e queredes saber que equipa nacional me tocou? Sim, PORTUGAL.

A gente ficou bastante surpreendida e divertida, «olha que o português veu a tirar a bola de Portugal, how funny, what a coincidence!» Mas ninguém deles suspeitava o ledo que eu me sentia deveras nesse momento, nom por ser português, como todos erradamente pensam que som, nom, mas porque eu som, com efeito, um grande torcedor da seleção das quinas. A verdade é que já nom tenho a paixom polo futebol que eu adoitava ter de neno, e ainda menos polo negócio que o futebol de hoje se tem tornado. Mas quando joga Portugal fica tudo em suspenso, e eu torno-me mais um torcedor da seleção. Que lhe querem, cada quem tem as suas fraquezas e estranhezas. E agora eu tinha mais um incentivo engadido, nomeadamente económico (24 livras), pra torcer por Portugal. Sentia-me mesmo como parte da equipa, cum interesse direto e pecuniário em ganhar o Euro. Mesmo que eu jogasse tanto coma o terceiro guardarredes, eu haveria levar tamém um bônus. Nunca tal cousa, em toda a minha carreira de seguidor de Portugal, me ocorrera. 

Contudo, e por muito fam que eu seja, nos últimos anos eu já vinha perdendo um algo de paixom. Nom por culpa minha, nom, senom devido aos pobres resultados que Portugal tivo (pra nom falar do fiasco do 2004). Em qualquer caso, antes de a competiçom começar eu botei umha olhadela à equipa, pra avaliar as nossas hipóteses de levarmos o bonus (£24 no meu caso, no dos jogadores um pouco mais) e o caneco. Vejamos: bons guardaredes, até ai tudo bem. Na defesa: mau, mau. No centro, o brasileiro batoteiro do Real Madrid, que nunca se sabe quando vai levar o cartom vermelho e estragar as nossas hipóteses, o Carvalho centenário (ele-nom se tinha retirado na década passada?), o Fonte, jogador de meio nível na Premier league, e mais o Alves, que se quadra tem mais jeito pró kung-fu. Nos lados temos um que nem fala português, outro do meio nível na Premier, e o Cõentrao nem sequer está. Restam o Costinha e o Lisandro. Por tanto, umha defesa insuficiente. Meio campo: o William, que é bom mas teria problemas pra se apurar prà final dos 100 metros pra maiores de 60 anos. Despois temos um outro francês, um rapaz de 18 anos, e o Moutinho que já vai velho. O resto som jogadores aceitáveis, só isso. Na frente: o Ronaldo, que está fora de forma, como se viu na final dos Champions, o Nani, que tivo o seu momento há por aí 10 anos, o mesmo que o gajo das trivelas. E pra rematar, o meirande chaínhas da Premier league nos últimos anos, o Éder. Treinador: um fulano que andou pola Grécia e vive permanentemente com cara de ferreiro. Pobrinha a mulher!

Enfim, nom dá, nom dá pra nada. Estou mesmo a pensar em vender a minha bolinha, talvez consiga uns 50 pens. O pior de tudo é quando ligo a RTP on line: Great expectations! «Temos muitas hipóteses, queremos jogar a final, aliás, vamos ganhar a taça!» Enfim, é-che o que há, meu, som portugueses, um povo bem simpático. E eu som supostamente um deles!

No trabalho fala-se de vez em quando de quem vai ganhar, de quanto vai durar a Inglaterra antes de fazer o ridículo mais umha vez, desta ou daqueloutra equipa. Eu cuido que vai ganhar a França. A Alemanha porém sempre ganha, mesmo quando joga mal, é verdade. Portugal? Naaa … Todos concordam, Portugal é só Ronaldo. Isso mesmo digo eu tamém, como muito chegamos às eliminatórias; acho que podemos vencer a Islândia e a Hungria, a pesar de tudo. No meio destas conversas descontraídas sinto-me à vontade, sinto-me coma um embaixador de Portugal, povo de gente humilde e simpática, que até falam umha espécie de galego. Porém, dalgumha maneira que nom consigo explicar, sinto-me tamém mancado, um pouquerrechinho, no meu orgulho. Talvez devim dizer que Portugal nom é só Ronaldo, que Portugal tamém tivo um império e navegou por mares dantes nunca navegados ... Mas cumpre ter os pés bem assentes na terra, e nom dizer cousas de que se arrepender mais tarde. Umha noite antes dos jogos vou-me deitar. Enquanto adormeço contemplo, por uns intres apenas, Portugal a ganhar jogos, a fazer um grande Euro 2016. Com certeza que aqui, na Inglaterra, nom som o único a acubilhar um tal sonho ... 

(Fim da primeira parte)

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